11.8.11

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Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Monica Lopes

Ontem andei pensando, dias de chuva me fazem pensar, e me trazem um conforto, uma suavidade. Em se tratando de tempestades é diferente, a sensação é de quebra, conflito; como um trincar de vidro; algo inesperado, as vezes incômodo. Não só pela impressão de ter que consertar algo, mas as vezes o aborrecimento pelo som agudo, o estalo do trincar; ou ainda um estado de surpresa ou susto. Mas mesmo na tempestade há um conforto, algo que traz um alívio e uma percepção de integridade, unidade.

Talvez seja esta a síntese do semestre passado. Uma sensação de quebra, choque, ruptura; um estilhaçar por dentro; surpresas, sobressaltos. Mas havia algo de coeso, um núcleo; um núcleo multifocal, que disparava para todas as direções. A ruptura surgia do encontro com outros universos de corpo e de pensamento no mover, e destes encontros despontava infinitas possibilidades de desenho e espacialidades.

... núcleo que trinca e espalha ...

... em si um abismo se movendo... em trânsito ... passagem ...

Questões: ?? Como explodir e se manter coeso? /Como fluir sem estancar?/ como transformar, deixar mudar e expandir sem perder a essência do sentido do que se criou??

"O vento levantou-se... Primeiro era como a voz de um vácuo... um soprar no espaço para dentro de um buraco, uma falta no silêncio do ar. Depois ergueu-se um soluço, um soluço do fundo do mundo, o sentir que tremiam vidraças e que era realmente ventos. Depois soou mais alto, urro surdo, um chorar sem ser ante o aumentar noturno, um ranger de coisas, um cair de bocados, um átomo de fim do mundo. Depois, parecia que..." [Fernando Pessoa, Livro do Desassossego]

Encontrei uma música que sintetiza esta sensação e queria compartilhar - Core Chant de Meredith Monk.

Core: nucleo, cerne, âmago, caroço, miolo, medula parte central
Chant: canto, cântico, salmo, entoar cântico.

... um "canto coletivo" era a dança de cada um - revirada, remexida, enviesada, atravessada por diversos universos - mas que, no entanto, nascia de um cerne único, um miolo esfenoidal.

"Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espetáculo com outro cenário. E aquilo que assisto sou eu." [Fernando Pessoa, Livro do Desassossego].


5.8.11

reverberações.3

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

em nossa pequena pausa de duas semanas sem encontros, estive no Rio de Janeiro. louco quando se está envolvido em um trabalho, que tudo ao redor parece querer te dizer de novo as mesmas poéticas numa insistência temática e retórica. como se o mundo se configurasse todo nas mesmas metáforas, nos mesmos indícios de sentido ou perda de sentido... nesse período no Rio, em uma mostra sobre a estética punk e pós-punk, me deparo com David Wojnarowicz e sua obra Rimbaud em Nova Iorque. Várias coisas de seu trabalho me deixaram atônita e me fizeram retomar em experiência uma vez mais nossas pesquisas.

quando você percebe no rosto do outro o seu. quando um rosto cataliza outros rostos em sua semelhança. quando um trabalho de um artista te espelha tanto que te engole tanto que o rosto dele se cola ao seu. quando a sociedade te imprime um rosto a despeito do seu desejo ou consciência. quando.










eis David. o primeiro homem a invadir minhas reflexões nesse blog.

5.8.11

reverberações.2

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

sigo ainda um pouco no que ainda vibra do semestre passado. eu sem rosto. sem me reconhecer com um rosto. sem ter uma dança cujo rosto eu reconheça. penso em cabelos ao invés de rosto. cabelos loiros que nem são como os meus, em verdade castanhos. mais uma vez, francesca woodman me bate à porta. mais uma vez.