12.5.12

Cavidades...

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Monica Lopes 


Procedimento: Vidros

Pressão, tensão nos músculos. Corpo as vezes torcido e em outros momentos completamente largado no espaço. Cansaço de tanto se debater. Grito, vontade de gritar e não poder. Rosto sem boca, sem olhos. Cavidades se movem. Rosto em carne viva, vísceras para fora do corpo, músculos, sangue. Impulsos de bicho, garras. Pressão na cavidade da boca. Não há como falar. Pele que rasga, deforma o rosto, o corpo. Pele que deforma outra pele. Lábios, dentes. Vontade de gritar. Violência. Pressão nos dentes, na boca, nos olhos. Musculatura em estado de alerta, perigo. Olhar o espaço através dos vidros, nada a fazer. Garganta anestesiada. Eu sou outro corpo, vazio. Nada a fazer. Um corpo que olha o espaço e se move. Nada a fazer.

Eu sem rosto, dilacerada, em carne viva, exposta, sangrando. O pulso do sangue, os dentes rangendo. Meus dentes estavam presos, um mordedor? Imagens de prisão, algemas, corpo em pedaços. Paisagem de tensão por todos os lados e em todas as direções e era contínuo. Pressão, partes do corpo sendo pressionadas, parede. Sem olhos - com antenas? - espasmos do corpo tentando se expandir e se libertar. Rosto sem olhos, sem nariz e sem boca. Cavidades do rosto e do corpo se movendo pelo espaço. Rosto sem olhos, mãos delicadas, amarradas com a cabeça. Dificuldade de locomoção, impulsos vindos de fora. Algo que empurra, sem controle. Sou atravessado. Cavidades se movem, nada a fazer. Garganta anestesiada. Eu sou outro corpo. Corpo, vazio. Nada a fazer.

Torções do corpo pelo espaço, cotovelos que tentam abrir espacialidades, giros. Mãos que pressionam, empurram o espaço, pele do rosto que se move e move todo o corpo em impulsos. Escápulas com peso para baixo. Rosto pressionado, testa, nariz, bochecha, boca, dentes. Pressão do rosto, pele do rosto que rasga. Mãos, dedos que movem, delicadeza. Cabeça segue o rosto, e as pernas seguem a continuidade do impulso. Pescoço, garganta, mãos e braços pressionados. Espasmos, musculatura da boca tremendo. Nada a fazer. Garganta anestesiada. Eu sou outro corpo. Corpo, vazio. Nada a fazer.





12.5.12

Pedra... Coração... Boca...

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Monica Lopes 



Procedimento: Pedra no peito

Eu estou. Uma pedra. Respiração. Eu não me movo. Peso. Grito engasgado. Ahhhh! Respiração, costelas. Coração. Medo! Medo de não mais respirar. Peso. Terra. Pedra. Embaixo da terra. Subterrâneo. O que está embaixo? Soterrada. Ainda respiro? Me tornei pedra. Ela é lisa, escorregadia. Balanço do meu corpo. Sinto pesar cada vez mais. A respiração se acalma. Sou terra, quase adormeço. Pedra, coração, respiro. Eu não me movo. Medo de não mais respirar. Grito engasgado. Ahhhh! Boca, tubo digestivo. Vontade de falar. Mas eu sou uma pedra. Angústia, falta de ar? Respiro, me acalmo. Mais subterrâneo. Mergulho, peso. Boca, saliva. Grito Engasgado. Ahhhh! Respiração. Pedra. Pulsação, coração pulsa e move. Estar viva. Pedra, soterrado, morte? Peso, terra, vermes que vivem na terra, apodrecer? Subterrâneo, mais pesado. Peso, coração. Sinto o coração, ele bate, eu ouço. Ouço vozes, tem gente lá fora. Respiro. Grito engasgado. Ahhhh! Sons de passos, vozes, há pessoas conversando. Eu não me movo. Peso, terra, pedra, ela escorrega, é lisa. Subterrâneo, respiro, peso, mais peso, relaxo. Sou uma pedra. Uma corrente de água escorre incessantemente. Angústia, respirar, embaixo d'água. Os sons aumentam, passos, pessoas correndo. Pedra, coração, costelas, peso. Tem um conforto no peso no externo. Nada fazer. Eu não me movo. Boca, grito engasgado. Ahhhh! Som da respiração. Silêncio. A sala está quieta agora, só ouço o som da água que continua escorrendo. Ouço um homem que grita lá fora na rua. Ele se repete, entoa a mesma nota, um som agudo. Pedra, subterrâneo, soterrada, terra por todos os lados, eu sinto a terra, estou na terra, eu sou a terra. É quente e confortável. Peso. Respiração. A pedra é lisa, ela desliza, sinto o movimento do meu corpo pulsando, vivo. Medo! Soterrado, morte! Grito engasgado. Ahhhh! A movimentação se expande, ouço sons de materiais que rasgam o chão, água escorrendo, vozes, pessoas conversando. Sinto passos próximos a mim. Eu volto de maneira abrupta, camadas e camadas submersas. Eu abro os olhos. Sensação de sufocamento, eu volto a respirar. Estou de volta.  

9.5.12

Pedra no Peito. Peito em Pedra.

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

 

Ana Mendieta  -  Burial Pyramid (1974)